Assim como em outras áreas da indústria do entretenimento, a dos videogames também vive em ondas e durante a maior parte das décadas de 80 e 90, foram os jogos de plataforma que dominaram. Com cada empresa querendo emplacar seu mascote e faturar o máximo possível com aquela febre, o mercado foi inundado por esse tipo de produção e após jogar tantos títulos assim, passei um bom tempo sem colocar a mão em um deles.
Embora a saturação tenha me permitido conhecer e passar a gostar de vários outros gêneros, no fundo, os jogos de plataforma sempre me agradaram e os anos que me mantive longe deles fez com que a “desintoxicação” eventualmente me deixasse com vontade de voltar a esse universo.
Por isso olhava com uma certa atenção para um jogo de nome estranho e desenvolvido no Chipre, até que com o lançamento da sua versão de diretor, resolvi dar uma chance ao colorido, divertido e bastante nostálgico Nikoderiko: The Magical World.

Crédito: Divulgação / Vea Games
Lançado originalmente em outubro de 2024, nele seremos Niko e Luna, uma dupla de mangustos aventureiros que descobre um artefato raro, mas que acaba sendo roubado pela gangue do Barão Grimbald. Essa é a premissa para partirmos em uma viagem por oito mundos repleto de armadilhas, chefões e todo tipo de armadilhas comuns a esse tipo de jogo.
Logo no início será fácil perceber a principal fonte de influência para o Nikoderiko: The Magical World. A todo momento o pessoal da Vea Games parece fazer questão de escancarar o quanto gostavam do Donkey Kong Country, o que pode ser percebido na maneira como a jogabilidade funciona, mas também na trilha sonora, afinal os jogos contam com o mesmo compositor, David Wise.
Mas se alguns adoram se incomodar com esse tipo de influência, classificando os jogos modernos de meras cópias, prefiro enxergá-los como uma forma de homenagem. Para quem adorava o clássico do Super Nintendo, será difícil começar o Nikoderiko: The Magical World e não se sentir a bordo de um trem que nos transporta para três décadas no passado. É como estar sentado diante de uma TV de tubo numa tarde chuvosa, comendo biscoitos e sem muitas preocupações.
E me sinto bastante confortável em acionar a carta da nostalgia aqui, pois há um detalhe que nem todos sabem e que despertará a ira em muita gente: eu nunca fui um grande admirador do Donkey Kong Country. Apesar de reconhecer a qualidade técnica e a importância daquela criação da Rare, o DKC surgiu justamente quando já estava ficando enjoado do gênero e por isso não tenho por ele o apego sentimental que vejo muitas pessoas declararem.
Mesmo assim, o título da Vea Games conseguiu despertar boas memórias daquela época, também por lembrar outro jogo de plataforma muito famoso, o Crash Bandicoot. Seja pela direção artística, pelo design dos protagonista ou a jogabilidade 2.5D, há muito daquela obra da Naughty Dog aqui, incluindo trechos de fases em que a progressão deixa de ser lateral.

Crédito: Divulgação / Vea Games
Já para quem gosta de encarar título assim na companhia de um amigo, saiba que Nikoderiko: The Magical World conta com suporte a partidas cooperativas, que podem ser iniciadas ou interrompidas inclusive no meio das fases. A ajuda de outra pessoa permitirá que certos lugares sejam acessados muitos mais facilmente, tornando assim a coleta de itens secretos bem mais tranquila.
Com esses itens poderemos comprar baús que nos darão músicas, artes conceituais e miniaturas aleatoriamente. Não chega a ser um grande atrativo, mas para quem gosta de coletar tudo o que está escondido pelas fases, será possível passar um bom tempo procurando maneiras de chegar a lugares aparentemente inalcançáveis.
Outro ponto que pode ser motivos de críticas é a falta de ousadia da Vea Games. Algumas pessoas poderão ficar incomodadas por Nikoderiko: The Magical World não trazer algo inovador, parecendo mais um Donkey Kong Country com uma nova aparência. Porém, se aquilo que você procurava era algo como aquele clássico, apenas com uma aparência diferente, deverá gostar bastante do jogo.

Crédito: Divulgação / Vea Games
Quanto a Director’s Cut lançada recentemente, a atualização gratuita trouxe diversas melhorias para algo que já era excelente. Jogabilidade aprimorada, visuais mais bonitos e até mesmo uma maior quantidade de conteúdo, como um novo mundo e chefe. Sem dúvida uma bela demonstração da atenção do estúdio com o jogo, mas também com o público.
Outra novidade trazida por essa Versão do Diretor e que merece elogio é a dublagem para o português brasileiro. Isso torna o título muito mais acessível no nosso país, principalmente entre o público mais jovem e que agora pode compreender a história e os comentários feitos pelos personagens durante as fases.
Aliás, se a sua intenção é presentear uma criança com o Nikoderiko: The Magical World, gostará de saber que ele pode ser encarado em uma dificuldade mais branda. Contudo, quem gosta de desafio não foi esquecido, pois o título permite até mesmo adicionar alguns dificultadores, como fazer uma mira nos perseguir por todo o estágio ou ativar um modo espelhado.
Logo, seja você um jogador das antigas ou alguém que está começando agora, esse é um título que tenta abraçar a todos e consegue fazer isso ao se manter estritamente fiel às suas origens, embora o preço a ser pago por isso seja caminhar sobre a tênue linha que separa uma cópia da homenagem/inspiração.