A vida como ela é (ou quase isso)

Para muitas pessoas, os games não passam de meros passatempos, apenas uma maneira de fugirem do mundo real e poderem assumir papéis fantásticos. Acho essa linha de raciocínio plenamente válida, mas e se além disso os jogos eletrônicos também puderem nos trazer assuntos que merecem ser discutidos e/ou histórias intrigantes que permanecerão na nossa mente por dias e mais dias?

Pois de uns meses para cá alguns estúdios estão aproveitando esta mídia para abordar temas que antes só eram vistos em livros, séries e filmes, e se você aprecia o que alguns gostam de chamar – na minha opinião, equivocadamente – de histórias interativas, então precisa conhecer o Life is Strange.

Primeiro capítulo (de cinco) da nova criação da Dontnod, o jogo confirma a habilidade da desenvolvedora francesa em criar bons enredos e abre caminho para uma história que deverá agradar qualquer um que se interesse por ficção científica e mistério.

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Nele acompanharemos Maxine Caulfield, uma garota de 18 anos que está realizando seu sonho, que era entrar para a faculdade de fotografia e ter aulas com um dos mais respeitados nomes da área.

Tudo corria relativamente bem, com a adolescente tentando encontrar tempo para estudar, enfrentando a saudade da casa dos pais e tendo que lidar com os “ataques” dos outros alunos, graças ao seu comportamento, digamos… pouco social.

No entanto, num certo dia Max presencia um crime e sem que uma explicação seja dada (pelos menos por enquanto) para isso, o evento desperta uma habilidade que ela não sabia que tinha, que é de voltar no tempo. Completamente perplexa e tentando absorver a novidade, ela sabe que precisa fazer alguma coisa para mudar aquele evento e a partir de então embarcaremos em uma história que parece ter saído de um episódio de Além da Imaginação ou Arquivo X.

Ao se descobrir, como ela mesma diz, uma máquina do tempo ambulante, Max passa a aproveitar seu poder para ajudar (?) outras pessoas, fazendo escolhas que poderão mudar consideravelmente a vida de todos, a famosa teoria do caos ou, efeito borboleta.

Desde respostas dadas aos outros até a mudança de eventos chaves, em Life is Strange estaremos tomando decisões a todo momento e a possibilidade de voltarmos alguns segundos e escolhermos outro caminho é sem dúvida uma mecânica muito interessante, podendo resultar em algumas coisas muito legais (e outras assustadoras).

Até por funcionar como um episódio piloto numa série, nesta primeira parte (brilhantemente chamada de Chrysalis) ainda não somos capazes de ver as consequências de nossas escolhas, mas o capítulo funciona muito bem ao nos situar no universo proposto, além de apresentar alguns personagens e nos ensinar como a viagem no tempo funciona.

É verdade que boa parte das pessoas com quem temos contatos falham em cativar por serem esteriótipos típicos de escolas, mas a protagonista possui um enorme carisma e boa parte da ótima ambientação se deve à excelente trilha sonora, que não só merece elogios por contar com músicas muito bonitas, mas também por elas acrescentarem muito à experiência.

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O jogo no entanto derrapa muito feio quando se trata da dublagem, que além de ter um nível de atuação baixo, ainda é muito prejudicada pelo péssimo trabalho de sincronismo labial, algo inadmissível diante da tecnologia disponível atualmente.

Isso se torna ainda mais evidente quando olhamos para os gráficos do jogo, que se não fazem frente ao títulos de ponta, pelo menos encantam pela boa direção artística e pela grande quantidade de detalhes nos cenários, que conseguem passar uma boa sensação de estarmos mesmo visitando uma casa ou explorando os corredores de uma universidade.

Contudo, o grande destaque de Life is Strange está mesmo naquilo que ele quer nos contar e em sua mecânica, fazendo dele um bom adventure nos moldes do The Walking Dead e Heavy Rain, claramente duas das suas fontes de inspiração.

Faltando ainda quatro partes para conhecermos o desfecho da aventura de Max, meu único receio é que a Dontmod já tenha queimado todos os seus cartuchos, ficando sem boas ideias para os capítulos seguintes e até mesmo sem músicas tão legais ou tantas citações à cultura pop como vimos neste início. Porém, a primeira impressão deixada foi muito boa, até por tentar levar aos games um assunto tão delicado como a adolescência e as muitas dificuldades que enfrentamos neste período de nossas vidas.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.