Quem viveu o final dos anos 90 viu o nascimento de diversas franquias que permanecem relevantes até hoje. No campo dos survival horrors, duas que surgiram naquela época são a Resident Evil e a Silent Hill, e foi justamente nelas em que a Red Soul Games se inspirou para criar o Post Trauma.

Apostando na atmosfera densa, quebra-cabeças desafiadores e um enredo macabro, o jogo busca inovar, mas sempre apostando no saudosismo, o que resulta em uma experiência agridoce que não conseguirá agradar a todos.

Post Trauma começa nos colocando na pele de Roman, um maquinista que acorda a bordo de um trem após sofrer um ataque de pânico. Sem saber como foi parar ali e porque o lugar está infestado de criaturas horripilantes, o homem de meia-idade chama a atenção por ser uma pessoa comum, alguém que até então apenas vivia sua pacata vida.

Ao optar por um personagem que foge do modelo “herói padrão” dos videogames, os desenvolvedores miraram em uma narrativa mais imersiva. A história que trata de temas como culpa e trauma não será contada apenas pela perspectiva de Roman e a ineficácia em explorar melhor os personagens secundários, faz com que tenhamos dificuldade em nos apegarmos a eles. Contudo, o que mais pesa contra o enredo é a maneira confusa como ele se desenrola.

Post Trauma

Crédito: Divulgação / Red Soul Games

Mas enquanto o estúdio espanhol derrapou na narrativa, acertou em sua jogabilidade, ao menos em parte. Embora tenhamos a opção de jogar no famigerado modo tanque, que deixa seu estilo mais parecido com o dos primeiros Resident Evils, quem não gosta desse modelo poderá encarar o jogo com uma abordagem mais moderna.

Os combates são um pouco travados e pecam pela imprecisão, mesmo não sendo terríveis. Já os quebra-cabeças são o ponto alto de Post Trauma. Ainda nos primeiros minutos teremos que descobrir uma sequência de números para avançar e ali o título nos mostrará que o raciocínio lógico será amplamente exigido — às vezes com um nível de dificuldade bem elevado.

Outra boa ideia, mas não tão bem executada, foi a alternância entre as perspectivas em primeira e terceira pessoa, ou melhor, com câmeras fixas, no melhor estilo dos anos 90. Isso traz alguma variedade à jogabilidade, mas a transição nem sempre parece fazer sentido e quando estamos com a câmera “pelos olhos do protagonista”, chegamos a outro problema: desempenho.

Post Trauma

Crédito: Divulgação / Red Soul Games

Post Trauma é um jogo que não roda bem no PlayStation 5, com quedas frequentes na taxa de atualização de frames. Isso se torna ainda pior nas sequências em primeira pessoa, algo imperdoável quando consideramos a qualidade das imagens desse survival horror.

Alguém poderá argumentar que o visual parece tão simples propositadamente, com o título buscando prestar sua homenagem aos clássicos do PlayStation 2. No entanto, a estética visual acaba passando uma impressão de produto de baixa qualidade, mesmo com ele sido feito na poderosa Unreal Engine 5. Então, ao notarmos o fraco desempenho em um jogo que se passa quase sempre em ambientes fechados, faltam argumentos para defender a desenvolvedora.

Felizmente a parte sonora é bem feita, com as músicas algumas vezes lembrando as composições do mestre Akira Yamaoka e os efeitos sonoros assustadores (sussurros, gritos, etc.) contribuindo muito para o clima tenso passado pelo jogo.

Post Trauma

Crédito: Divulgação / Red Soul Games

Considerando a reciclagem de cenários na parte final da campanha, o desempenho instável no console da Sony e os gráficos muito distante do que vemos em várias produções atuais, Post Trauma se torna um jogo difícil de recomendar. Porém, se você sente saudade dos jogos que marcaram o início dos survival horrors, incluindo as saudosas câmeras fixas, e não se incomoda com uma jogabilidade que peca nos combates, mas brilha nos puzzles, encontrará aqui um bom jogo.

Ao cogitar dar uma chance a essa criação da Red Soul Games, é imprescindível levar em consideração o fato dela ser um projeto de pequeno/médio porte, além de seu preço bastante acessível. Contudo, é provável que já nas primeiras horas você fique com a sensação de que o título tinha potencial para entregar algo muito melhor do que realmente recebemos.

Embora tenha nascido como a carta de amor a um gênero tão importante adorado, o projeto acabou parecendo mais uma carta de terror.

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Pai em tempo integral do Nicolas, enquanto se divide entre a comunicação pública e o Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.