De El Dorado a Iram dos Pilares

Ao contrário do que fazia nas décadas de 80 e 90, hoje em dia eu raramente termino um jogo mais de uma vez. Lançamentos demais, tempo de menos… O que sempre passa pela minha cabeça antes de encarar novamente um título que já conheço é: porque “perder” tempo com ele, se posso conhecer algo novo?

Isso fez com que eu tivesse uma certa repulsa pela onda de remasterizações que invadiu a indústria nos últimos anos. Tudo bem, uma empresa relançar um jogo que apareceu há algumas gerações me parece fazer sentido, mas fazer isso com algo que saiu originalmente para o PlayStation 3 ou Xbox 360?

No entanto, quando comprei um PlayStation 4 e junto veio uma cópia do Uncharted 4: A Thief’s End, comecei a cogitar a possibilidade de adquirir a The Nathan Drake Collection e sim, isso seria bastante controverso. O problema é que eu já havia terminado a trilogia inicial no console anterior da Sony, inclusive com os discos permanecendo na minha prateleira. Logo, porque investir novamente na compra de jogos que já possuo?

Bom, a verdade é que há algum tempo eu via pensando em jogar de novo as primeiras aventuras de Nathan Drake, pois não lembrava de muita coisa que tinha acontecido nelas e ao ver que o trio de remasterizações me custariam apenas US$ 20, decidi que valia a pena ir contra minhas convicções.

Uncharted - The Nathan Drake Collection

Poder relembrar o três jogos com gráficos melhores e uma maior taxa de atualização de frames parecia o incentivo ideal para embarcar novamente em tais títulos e depois que fizesse isso, eu estaria pronto para conhecer o tão elogiado desfecho para a história do explorador da Naughty Dog.

Resolvi então iniciar o Uncharted: Drake’s Fortune, inocentemente achando que seria só para ver como havia ficado o trabalho de remasterização feito pela Bluepoint Games e quando me dei conta, já estava assistindo os nomes subindo na tela de crédito. Aproveitando o embalo, parti para o segundo e depois para o terceiro capítulo, experiência que me faz mudar mudar um pouco a opinião que tinha sobre a série.

Incentivo
Além de oferecer experiências marcantes, a série ainda tem o poder de incentivar o jogador a conhecer um pouco mais sobre a história, mesmo que para isso se valha de fantasias ou de situações que sabemos muito bem que seriam impossíveis no mundo real — e isso é muito bom!

Eu sempre sustentei a ideia de que o Uncharted 2: Among Thieves era o ápice da franquia, com algumas de suas cenas — como por exemplo a do trem — sendo insuperáveis, mas hoje penso um pouco diferente. Para mim, se o Uncharted 3: Drake’s Deception não conseguiu superar o seu antecessor, no mínimo ele está no mesmo patamar, com a campanha contando com um número até maior de situações memoráveis.

Desde a cena inicial onde acompanhamos um jovem Nathan Drake até a queda do avião, são várias as passagens dignas dos melhores filmes de ação, com a engine do jogo brilhando ainda em momentos com o incêndio no chateau ou no naufrágio de um navio controlado por piratas. A impressão é de que a desenvolvedora fez o possível para rechear o jogo com momentos de cair o queixo e acredito que o objetivo foi alcançado.

Eu até concordo que quando se trata do enredo, nos colocar para seguir os passos de Marco Polo na tentativa de encontrar Shangri-la pode ter funcionado melhor do que refazermos o caminho do arqueólogo T. E. Lawrence “da Arábia” em sua busca pela cidade perdida conhecida como Iram dos Pilares. Ainda assim, o jogo possui tantos acertos que não consigo mais vê-lo como inferior ao segundo capítulo.

Uncharted - The Nathan Drake Collection

Poder jogar a trilogia no Uncharted – The Nathan Drake Collection em sequência também me fez perceber o quão inferior aos outros dois é o Uncharted: Drake’s Fortune, jogo que indubitavelmente tem seus méritos, mas que olhando agora em perspectiva, passa a sensação de que com ele os envolvidos na criação estavam apenas testando o terreno para algo muito maior. Tudo neste capítulo acaba sendo inferior aos títulos que o seguiram, desde os gráficos até a mecânica.

E por falar na jogabilidade, poder experimentar esses jogos novamente reforçou uma implicância que tenho com a Naughty Dog, que é a maneira um tanto simplista como seus jogos funcionam. No geral, suas obras são como intermináveis sequências de corredores intercalados com salas repletas de inimigos, estratégia que utilizam incansavelmente, mas que acaba justamente nos deixando um pouco enjoados pela falta de variedade. É bem verdade que essa sensação vai sendo melhor mascarada conforme avançamos na série Uncharted, mas no fundo elas permanecem lá.

Esta pequena cutucada a parte, o fato é que foi sensacional poder jogar novamente a trilogia Uncharted e se antes eu já a adorava, agora posso dizer que me tornei ainda mais fãs. Que venha portanto o Uncharted 4, mas isso é assunto para outra hora.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.