Watch Dogs: Legion

Os jogos quase sempre se escoraram na ideia de um herói que surge para salvar o mundo, no máximo um pequeno grupo que se junta com tal objetivo. Mas quando a Ubisoft Toronto decidiu fazer o Watch Dogs: Legion, eles se dispuseram a entregar um novo conceito: e se ao invés de ter um protagonista, o jogador pudesse controlar qualquer personagem que encontrar pelo caminho?

Partindo deste princípio, o jogo novamente gira em torno do DedSec, um grupo formado por hackers e que tem como objetivo lutar contra governos que utilizam o ctOS (central Operating System). Desenvolvido por uma companhia chamada Blume, essa rede de computadores tem sido usada em todo o planeta para controlar de tudo, de veículos a drones, passando por todo tipo de aparelho eletrônico que faz parte da vida das pessoas.

Com sua história se passando em uma Londres de um futuro próximo, Watch Dogs: Legion começa nos colocando no controle de Dalton Wolfe, um agente da DedSec que deve ir ao Palácio de Westminster desarmar bombas que foram plantadas por terroristas. Servindo como um tutorial, a missão dura apenas alguns minutos e culmina na descoberta de que os explosivos foram postos lá por outro grupo hacker, o Zero Day.

Wolfe então descobre que diversas bombas foram detonadas pela cidade, dando início assim a uma nova era de caos. Porém, na sua tentativa de descobrir quem está liderando os terroristas, o sujeito acaba sendo morto e é aí que temos contato com aquela que pode ser considerada a principal característica do jogo.

Montando uma equipe

Vários meses após o ataque, seremos apresentados à diversas pessoas e teremos que escolher qual controlar. Com qualidades e defeitos, este será apenas o primeiro personagem que estará à nossa disposição, já que a partir de um determinado momento ganharemos a habilidade de recrutar qualquer morador de Londres para a nossa equipe.

Como falei bastante sobre este aspecto lá no Meio Bit, recomendo que dê uma olhada no texto, mas de maneira resumida, este sistema de recrutamento fez com que o Watch Dogs: Legion se tornasse um apanhado de diversas histórias menores, com cada pessoa que encontramos pelas ruas contando com um pano de fundo e assim possibilitando que tenhamos uma certa empatia por elas.

Porém, esta mudança de paradigma acaba fazendo com que nunca nos sintamos muito próximos dos personagens, com o apego que temos por eles sendo muito mais devido às habilidades que eles podem carregar consigo. Ao jogar o Watch Dogs: Legion, não espere criar algum laço afetivo pelos seus personagens, mesmo porque, aqui o centro da narrativa é a causa defendida por eles e não os membros da DedSec.

Contudo, esta pluralidade de personagens permite que tenhamos uma narrativa mais ajustada à jogabilidade. Se você quer bancar o assassino e invadir um prédio atirando em todos que se moverem, para tornar a investida mais imersiva basta escolher algum membro do grupo que se encaixe nesta descrição. Quer bancar o James Bond e agir sorrateiramente como um espião super-treinado? Tal figura estará perambulando pelas ruas de Londres, então recrute-o!

Esse é o tipo de coisa jamais seria possível em um jogo com apenas um protagonista e o WDL está sempre nos incentivando a interpretar os mais variados papéis, algo que considero uma das principais qualidades de um jogo eletrônico.

Um jogo (tecnológico) de gato e rato

Mas o que esta liberdade de escolhas trouxe de muito bom à série, é a maneira como a jogabilidade pode ser adaptada ao nosso estilo. Como geralmente teremos que invadir locais sem sermos detectados, ter as ferramentas certas para fazer isso será fundamental e é por isso que precisamos ter a equipe mais variada possível.

Assim, um policial será a melhor escolha para roubar alguma informação em uma delegacia, ao mesmo tempo em que médico terá acesso facilitado a um hospital. Porém, obviamente nenhum deles conseguirá invadir um computador ou hackear o equipamento inimigo de maneira tão eficiente quanto um especialista em computação.

Saber qual personagem utilizar em cada ocasião é o que torna o Watch Dogs: Legion tão divertido, com muitas missões funcionando como um enorme quebra-cabeça e exigindo cuidado, raciocínio rápido e bastante elaboração. Além disso, o título ainda nos dá a opção de habilitar um sistema de morte permanente e desta forma, se um dos seus agentes for morto, ele nunca mais poderá ser utilizado e caso você perca todos eles, fim de jogo!

Bonito, mas problemático

Visualmente o Watch Dogs: Legion é um título bonito, com a cidade de Londres contando com uma enorme quantidade de detalhes e sempre parecendo estar viva. O número de pessoas andando pelas ruas é grande — assim como em qualquer metrópole — e boa parte desses personagens contam com uma aparência se não única, razoavelmente variada.

O problema é que tudo isso acaba cobrando um preço e mesmo tendo jogado em um Xbox One X, o desempenho do jogo está longe de ser agradável. Além de grandes quedas na taxa de frames por segundo, frequentemente pude notar screen tearing, que é aquele erro onde a tela parece ser cortada. Tais problemas poderiam ser reduzidos ou até mesmo eliminados caso o jogo nos permitisse escolher uma opção que privilegiasse o desempenho ao sacrificar uma maior resolução, mas isso infelizmente não é possível.

Ainda assim, são problemas que só deverão incomodar as pessoas com um olhar mais apurado. Mesmo bugs mais sérios eu não consegui detectar, exceto por duas vezes em que o jogo simplesmente travou e me jogou para a dashboard do videogame. O ponto positivo é que como ele está constantemente salvando o nosso progresso, só precisei reiniciar o título.

God Save the Queen DedSec

Ao nos permitir que qualquer personagem presente no jogo possa ser controlado, com o Watch Dogs: Legion a Ubisoft conseguiu entregar o melhor capítulo da série. Por falar de monitoramento dos cidadãos, segurança de dados e invasão, a sensação que tive após jogar este terceiro jogo é de que essa possibilidade de tornar qualquer pessoa em um protagonista é algo que deveria ter sido utilizada desde o início, mas entendo que esta ideia por parte das pessoas envolvidas na criação só tenha amadurecido com o tempo.

Talvez o problema aqui esteja em como a franquia poderá levar este conceito adiante. Voltar para um personagem principal inevitavelmente será tratado como um retrocesso pelos fãs e continuar garantindo o controle sobre qualquer pessoa poderá soar como mais do mesmo. Porém, este é um impasse com o qual nós jogadores só teremos que nos preocupar no futuro e até lá, será divertido continuar em busca daquele grupo perfeito de personagens.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.