Star Renegades

Eu adoro a ideia de um jogo onde precisamos aprender com nossas falhas e que nos faça aproveitar o que adquirimos para nos tornar mais fortes numa próxima incursão. Estas são as principais características dos rogue-lite, mas de um tempo para cá, depois de ver uma infinidade de títulos indies recorrerem a esta estrutura, acabei cansando de títulos assim.

O grande problema é que ao apostar nesse tipo de mecânica, boa parte dos jogos incorrem no erro de serem muito repetitivos, mas quando a Massive Damage anunciou a criação do Star Renegade, dois detalhes me fizeram ficar com vontade de jogá-lo: o enredo escorado na ficção científica e as batalhas por turnos, no melhor estilo JRPG.

Nele seremos Wynn Syphex, uma piloto cuja nave é abatida durante a invasão de um império ao seu planeta. Para piorar a situação, o ataque faz com que a moça perca seu irmão e a partir daí ela entrará para um grupo conhecido como os Renegados, tendo início uma saga em busca de vingança. O diferencial é que uma pessoa importante da equipe será o Professor Zurek, um sujeito que desenvolveu uma maneira de explorar linhas de tempo paralelas.

Pois é aí que entra o elemento rogue-lite de Star Renegade, já que cada que vez que a nossa equipe morrer, o cientista enviará o robô J5T-1N para outra dimensão, nos dando assim uma nova oportunidade de vencermos as batalhas. Esta é uma sacada interessante para tornar a ideia de uma nova chance algo mais imersivo, mas apesar do enredo do jogo começar muito interessante, com o tempo ele perde força e nos deixa com a sensação de que o estúdio poderia ter caprichado mais nesta parte.

As empolgantes batalhas por turnos

Mas se a história de Star Renegade possui alguns problemas de desenvolvimento, o mesmo não pode ser dito do seu sistema de batalhas. Com uma mecânica baseada em “Reactive Time Battle System”, isso significa que sempre que entrarmos numa luta, tantos os nossos personagens quanto os inimigos estarão em posições diferentes de uma barra de progresso. Será ela que determinará a ordem das ações, o que não é algo inédito, mas foi muito bem implementado.

Isso porque dependendo do tipo de ataque que escolhermos, ele será executado mais lenta ou rapidamente. Além disso, os inimigos são mais vulneráveis ou resistentes a determinados tipos de golpes e contam com escudos que precisam ser destruídos antes de conseguirmos lhes causar danos. Tudo isso faz com que os confrontos exijam uma alta dose de estratégia e sejam muito mais difíceis do que na maioria dos RPG por turnos, mas é justamente por isso que o jogo é tão divertido.

Avance, morra e repita

Rogue-Lite são jogos onde normalmente temos fases geradas proceduralmente e que quando morremos somos obrigados a voltar do início, as vezes mantendo itens e/ou experiência adquirida anteriormente.

Neles, o conhecimento adquirido numa sessão fará com que nos tornemos melhores, com a satisfação estando em conseguir ir cada vez mais longe e eventualmente chegar ao final da aventura.

De maneira um tanto simplista, podemos dizer que Star Renegades se resume a atacarmos com a maior força possível antes que os inimigos conseguiam nos acertar. Um dos motivos para isso é que embora o nosso escudo seja recuperado assim que terminarmos uma batalha, o mesmo não acontecerá com a barra de energia dos nossos personagens. Isso só acontecerá em situações específicas, logo, será fundamental evitarmos o máximo possível sermos atingidos.

Já fora das batalhas, o título nos colocará para explorar o mapa com uma visão área, com o estilo lembrando mais um jogo de tabuleiro do que aquilo que nos acostumamos a ver num RPG. Além disso, a movimentação acontecerá de maneira limitada, com o grupo podendo realizar apenas três conjuntos de movimentos. Como os caminhos a serem seguidos mostram os inimigos que encontraremos e as recompensas que receberemos, será fundamental escolher com sabedoria para onde ir.

Contudo, como aqui tudo será gerado proceduralmente, nem sempre apenas jogar de uma maneira que beire a perfeição será o suficiente para termos sucesso. Com a “sorte” afetando diretamente uma sessão de jogo, não será raro entramos numa batalha e logo no início percebermos que não sairemos vivos dela. Isso é algo comum em títulos com esse tipo de aleatoriedade, fazendo com que tenhamos que repetir um trecho várias vezes e isso infelizmente faz com que a repetição também prejudique o Star Renegades após algumas horas de jogo.

Um presente para os olhos — e para os ouvidos

Nos últimos tempos vimos diversos jogos recorrerem à pixelart e embora eu seja apaixonado por este estilo, reconheço que raramente vemos algo realmente diferente feito desta maneira. Mas este não é o caso do Star Renegades. Ao invés de criar algo que poderia facilmente rodar num console 16 bit, algo que muitos estúdios fazem, a Massive Damage preferiu aproveitar todo o poderio das máquinas atuais e abusou dos detalhes na parte visual.

Dos efeitos de luz e sombras nos personagens aos cenários bastante coloridos, ver o jogo em movimento é uma experiência fantástica, a ponto de muitas vezes eu querer ficar parado ali apenas admirando o espetacular trabalho feito pelos artistas responsáveis pelo jogo. Eu nem consigo imaginar o trabalho que esse pessoal teve para dar vida ao título, no que certamente é um dos gráficos pixelados mais bonitos já feitos.

Outro ponto que também merece elogio é na parte sonora. Com uma trilha marcante e que nos remete diretamente a uma época em que as músicas dos jogos ficavam impregnadas na nossa memória, eu sinceramente não esperava que essa parte fosse me agradar tanto, com a trilha combinando perfeitamente tanto com o visual, quanto com a temática futurista.

Star Renegades

Persista ou desista. Você decide!

No fim, Star Renegades agrada por entregar uma direção artística linda, mas principalmente por contar com um sistema de batalhas fantástico. Fazendo com que cada confronto funcione como um desafiador e intrincado quebra-cabeças, o jogo é um prato cheio para os estrategistas, fazendo com que tenhamos que pensar cuidadosamente em cada ação que formos realizar.

Sim, num primeiro momento tudo parecerá complicado demais e a curva de aprendizado se mostrará bastante íngreme, mas com o tempo (e dedicação) entenderemos melhor como todo a mecânica funciona e como tirar o melhor de nossos personagens. Nem que para isso seja preciso morrer, morrer e morrer, pois assim como em qualquer bom rogue-lite, aqui o fracasso será o nosso melhor professor.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.