Within the Blade

Eu cresci adorando jogos como Shinobi e Ninja Gaiden, portanto nada mais natural do que me interessar por títulos de plataforma que nos coloquem na pele de um ninja. Mesmo assim, seja pela enorme quantidade de lançamentos, seja por ele simplesmente não ter feito muito barulho quando chegou ao PC, lá em 2019, o fato é que eu nunca tinha ouvido falar do Within the Blade.

Desenvolvido pela Ametist studio, o jogo nasceu como Pixel Shinobi: Nine Demons of Mamoru e depois acabou sendo rebatizado, provavelmente para distanciá-lo de uma das franquias mais fantásticas da Sega — e que há bastante tempo tem sido ignorada pela empresa. Mas se isso poderia significar apenas uma tentativa de não ser confundido, na verdade serve para indicar que o Within the Blade possui um estilo bastante diferente da aventura protagonizada por Joe Musashi.

Ao contrário dos títulos que eu gostava nas décadas de 80 e 90, este possui um maior foco no stealth, com o jogador podendo se valer da habilidade do herói chamado Hideaki para se esconder pelos cenários e assim eliminar seus inimigos sem muito esforço. Ao fazer isso veremos uma animação do personagem retalhando os adversários e mesmo se tratando de um jogo feito com gráficos pixelados, o nível de detalhes impressiona.

Porém, aquele que deveria ser o grande destaque de Within the Blade logo se mostra uma oportunidade perdida. O problema é que ao fazer com que o ritmo do jogo fosse muito frenético, os desenvolvedores tornaram muito complicado avançarmos sem sermos detectados e isso não acontece por um nível de dificuldade elevado. Durante as fases é fácil notar o conflito presente na jogabilidade, com ela nos incentivando a agir rapidamente, mas também tentando nos convencer de que podemos ser “invisíveis”.

Além dessa dificuldade em definir um estilo, a jogabilidade também é bombardeada por uma grande quantidade de itens que podermos utilizar a nosso favor. São shurikens, bombas, minas e todo tipo de armas que um ninja utilizaria, com elas podendo ser encontradas pelos estágios, compradas com comerciantes que vivem numa vila que serve como hub ou até mesmo produzidas, desde que tenhamos os recursos necessários.

Por falar nisso, Within the Blade pode ser considerado um RPG de plataforma, já que nele também ganharemos experiência e poderemos desbloquear melhorias em uma árvore de habilidades. Tudo isso ajuda a adicionar um nível de complexidade que não é comum vermos em jogos com progressão lateral, mas também poderá irritar aqueles que só buscam uma ação mais ao estilo dos jogos de ninjas de antigamente.

O interessante é que por mais assustadora que esta jogabilidade possa parecer no começo, com tantas coisas para serem aprendidas, conforme avançamos pela campanha percebemos que a repetição será uma grande aliada, com a memória muscular fazendo com que tomemos decisões instintivamente e nos sintamos verdadeiros ninja. Quer dizer, exceto pela maldita corrida pela parede, pois nunca entenderei por que o estúdio decidiu fazer com que Hideaki salte sozinho para a direção oposta após a escalada.

Vencida esta íngreme curva de aprendizado, o que ter aguardará em Within the Blade é um bom nível de dificuldade, algo que não temos visto muito ultimamente e que servirá para nos dar alguma satisfação ao concluirmos uma missão.

Eu perdi as contas das vezes em que me vi tendo que repetir setores de uma fase até entender a movimentação dos inimigos ou perceber que uma abordagem sorrateira facilitaria muito a minha vida. Isso pode ser frustrante, mas também serve como motivador para continuar tentando.

Mas enquanto o jogo se esforça para entregar alguma variedade ao adotar diversos elementos de RPGs, o mesmo não pode ser dito dos cenários. A impressão é de estarmos sempre andando pelos mesmos lugares, com a decoração dos ambientes sendo pouco inspirada e bastante sem graça. O curioso é que a pixelart foi bem trabalhada, com os personagens contando com um bom nível de detalhes, mas a repetição das fases joga fora grande parte do esforço dos artistas.

Contudo, mesmo com seus problemas, Within the Blade é divertido e poderá matar a vontade de quem está procurando um jogo de ação com jogabilidade em duas dimensões. Talvez o meu erro tenha sido esperar que ele fosse um novo Shinobi — algo que nem mesmo a Sega parece disposta a fazer — e desde que você esteja preparado para encarar a criação da Ametist studio com uma expectativa diferente da minha, poderá encontrar aqui uma aventura bem interessante.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.