Ultracore

De uns anos para cá tornou-se comum vermos jogos com estética retrô, parecendo que foram criado há duas, três décadas. Para algumas pessoas isso não passa de preguiça por parte dos desenvolvedores, mas no caso da ININ Games e o seu Ultracore, a opção foi por resgatar um título que por muito tempo permaneceu engavetado.

Mas antes de falar sobre o jogo que chegou recentemente ao Nintendo Switch, PlayStation 4 e PS Vita, vale contar um pouco da sua história, algo que nos fará voltar a meados da década de 90, mais precisamente ao ano de 1994, quando os suecos da então Digital Illusions, hoje DICE, estavam prestes a lançar um jogo chamado Hardcore.

Com o seu desenvolvimento estando a cerca de 99% concluído, a ideia era colocar no mercado versões para o Mega Drive, Sega CD e Amiga, com ele sendo um run-and-gun com gráficos muito bonitos e uma jogabilidade frenética. Aquele título tinha tudo para fazer sucesso, mas numa ironia do destino, a geração estava mudando e a empresa que o publicaria, a Psygnosis, acreditava que com a chegada dos novos consoles, as vendas não atingiriam as expectativas.

Preview do Hardcore na edição de maio de 1994 da revista The One Amiga

Diante daquela situação, a desenvolvedora não teve outra opção, precisando cancelar o projeto e vendo todo o trabalho que havia sido realizado ser desperdiçado. A partir daquele momento, o Hardcore estava fadado ao esquecimento, até que mais de 20 anos depois surgisse uma luz no fim do túnel.

Graças ao interesse da editora Strictly Limited Games, os direitos sobre aquele projeto foram adquiridos e após mudar o seu nome para Ultracore, eles deram à ININ Games a missão de adaptar o jogo para plataformas mais modernas. Ele então contariam com a colaboração de algumas pessoas que trabalharam na criação do original, para assim terminar o que havia sido deixado de lado.

História e jogabilidade padrão anos 80

Assim como acontecia com muitos jogos e filmes de ação daquela época, o Ultracore está longe de contar com um enredo elaborado. Sem que nenhuma informação nos seja passada ao iniciarmos a campanha, somente após vários minutos tentando sobreviver aos ataques de robôs encontramos um personagem que nos diz que a Terra está sendo invadida por alienígenas.

Na verdade, tudo não passa de um mero pano de fundo para continuarmos atirando em qualquer coisa que se mover. Isso não chega a ser um grande problema, mas para quem está procurando um jogo com um enredo mais elaborado, o título pode acabar se mostrando uma grande decepção.

Já para quem quer muitos tiroteios, explosões e um jogo que exige reflexos rápidos, Ultracore lhe fará lembrar de porque hoje em dia os games são criticados por não nos oferecerem um grande desafio. Com as ameaças surgindo por todos os lados, não será raro termos que encarar um mesmo trechos diversas vezes, simplesmente por termos morrido ao cair num buraco ou por não estarmos esperando um novo tipo de inimigo que surgiu pelo caminho.

O que ajuda a amenizar tanto sofrimento é o fato dos controles funcionarem muito bem, com o protagonista respondendo rapidamente aos comandos e sendo bastante ágil. Aqui também vale um elogio ao pessoal da ININ Games, pois eles tiveram a ideia de aproveitar as alavancas analógicas direitas dos novos videogames para nos permitir mirar livremente.

Com isso, ficou muito mais fácil acertarmos aqueles inimigos que estiverem voando nos cantos das telas, algo que evidentemente não era possível na época do Mega Drive. O interessante é notar que, mesmo com essa novidade proporcionada pelos controles mais modernos, o jogo não deixou de ser bastante desafiador.

Pixel art e as músicas sintetizadas

Eu entendo quando as pessoas reclamam de jogos lançados hoje em dia e que utilizam um estilo visual das antigas gerações, mas como grande apreciador de pixel art, não consigo deixar de me encantar com algo como o Ultracore. Apesar da limitação do Mega Drive de exibir apenas 512 cores, sendo 64 ao mesmo tempo, isso não impedia que alguns estúdios entregassem visuais belíssimos, como é o caso deste jogo.

Mesmo com cenários sem muita iluminação e construídos quase sempre com cores mais opacas, a direção artística do jogo cumpre o seu papel e devido aos efeitos de paralax, se levarmos em consideração o contexto, é difícil não se impressionar. Fico imaginando o quanto este título poderia ter sido elogiado se tivesse mesmo aparecido no Mega Drive e por conseguir me colocar há mais de duas décadas enquanto o jogava, algumas vezes me peguei esboçando um leve sorriso ao ver um chefe ou mesmo admirando a movimentação do nosso personagem.

Outro aspecto que também se destaca no Ultracore é a sua trilha sonora. Com cada estágio contando com a sua própria música, com elas quase sempre casando muito bem com o estilo frenético do jogo. Um detalhe interessante é que além das faixas originais criadas na época, o game ainda conta com uma trilha sonora inédita, cabendo ao jogador escolher qual prefere ouvir.

Um jogo de nicho, mas que pode te surpreender

Encarar algo como o Ultracore hoje em dia definitivamente não é para qualquer um. O jogo deverá agradar principalmente aqueles que adoravam títulos como Contra: Hard Corps, Mega Turrican ou Gunstar Heroes, mesmo não tendo tanta qualidade quanto estes.

Além disso será preciso ter a mente aberta para entender se tratar de um projeto que deveria ter sido lançado há 25 anos e que portanto conta com muitos dos vícios daquela época. Porém, se você estiver ciente das falhas presentes no Hardcore e estiver disposto a encarar um jogo com nível de dificuldade acima do que costumamos ver hoje em dia, poderá encontrar nele um aventura nostálgica e bastante divertida.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.