Humankind

Poucas são as séries que podem ser orgulhar por terem dominado um estilo de jogo durante várias décadas e a Sid Meier’s Civilization é uma delas. Embora outras franquias tenham se arriscado pelo gênero 4X, na maioria das vezes elas preferiram se situar em universos de fantasia ou ficção científica e quando ninguém esperava algo que pudesse desafiar uma das marcas mais poderosas da indústria, eis que surge o Humankind.

Mas antes de falar sobre o novo jogo da Amplitude Studios, vale fazer um resumo do histórico da desenvolvedora. Fundada há 10 anos na cidade de Paris, a empresa foi a aposta de dois ex-funcionários da Ubisoft, Romain de Waubert de Genlis e Mathieu Girard. Valendo-se do programa de Acesso Antecipado oferecido pelo Steam, inicialmente eles voltaram sua atenção para o PC e implementaram uma ideia muito interessante, o Games2Gether.

Com ele o estúdio poderia financiar coletivamente seus projetos, mas principalmente, permitir que o público votasse e decidisse escolhas de design para os jogos que estivessem sendo feitos. O conceito aproximaria os desenvolvedores dos fãs e permitiria a implementação de uma experiência focada no usuário, fazendo com que os títulos tivessem muito do que a comunidade desejava.

Foi assim que nasceu a primeira criação da Amplitude Studios, um jogo chamado Endless Space e que nos colocava para criar um enorme império interestelar. Construído no estilo 4X, ele serviria como alicerce para outro projeto do gênero, o Endless Legend, mas este tendo a fantasia como plano de fundo. Com ambos tendo feito bastante sucesso entre os fãs de jogos de estratégia, em 2016 a Sega adquiriu a desenvolvedora e com o apoio de uma gigante, ela poderia partir para um voo bem mais alto.

As culturas e as muitas combinações

Em Humankind começaremos nossa saga pela história controlando uma pequena tribo. Neste primeiro momento nos restará explorar as redondezas e procurar comida e curiosidades, o que consequentemente nos dará acesso a mais pessoas e aos poucos poderemos tornar nosso grupo mais forte. Nada muito diferente do que estamos acostumados a ver em jogos de estratégia por turnos, mas o título conta com uma diferença que o torna muito interessante.

Ao contrário da série criada por Sid Meier, aqui não teremos que escolher uma civilização para comandar antes de iniciarmos uma partida. Com a história sendo dividida em seis eras, sempre que entrarmos numa nova teremos que optar por uma cultura e com 60 delas estando disponíveis, a desenvolvedora afirma que mais um milhão de combinações podem ser feitas, permitindo assim com que o jogador seja sempre motivado a experimentar.

Como cada cultura conta com suas próprias unidades, distritos para as cidades e peculiaridades, a sensação é de que estaremos sempre andando por um terreno desconhecido, com a imprevisibilidade funcionando como um dos pontos altos do jogo.

No início será fácil ficarmos perdidos entre tantas opções, mesmo porque não saberemos muito bem se nos daremos melhor sendo um governante autoritário que vê a força como melhor saída ou um que privilegie o entendimento com outras civilizações.

Decisões, diplomacia e batalhas

Assim como em qualquer jogo 4X, em Humankind também seremos colocados diante de uma enorme quantidade de escolhas. Você deseja fazer com que a sua civilização invista em construções para melhorar a indústria? Tudo bem, mas saiba que com isso o povo terá acesso a menos comida, o que por sua vez atrasará o aumento populacional. O que acha então de construir uma nação focada em plantações, garantindo assim uma boa fonte de alimentação para todos? Neste caso, como ficariam suas defesas?

Por funcionar como um enorme e complexo jogo de tabuleiro que nos coloca para criar e tentar expandir um império, não chega a ser uma surpresa o jogador precisar tomar tantas decisões, mas ainda assim é um pouco assustador vermos tantas informações pipocando pela tela. Nas primeiras partidas isso será ainda pior, afinal não estaremos familiarizados com o sistema, mas para quem já dedicou algumas horas ao gênero, a interface parecerá leve e bastante objetiva.

Nos permitindo escolher desde a religião que será seguida pelo povo até o modelo de governo adotado, Humankind ainda nos colocará para tomar decisões que podem parecer menores, mas que poderão ter um grande impacto no futuro. Por exemplo, após desenvolver a escrita as pessoas passarão a ter um melhor controle sobre o dinheiro e se antes as dívidas desapareciam com a morte do devedor, agora os líderes da cidade querem que elas sejam esquecidas apenas para quem não é habitante do lugar. Você aceitaria isso ou não?

Como assim 4X!?


Abreviação para explorar, expandir, extrair e exterminar, este é um subgênero para jogos de estratégia e de tabuleiro, onde basicamente temos que construir um império. Nele a ênfase está em utilizarmos a economia, diplomacia, desenvolvimento tecnológico e militar para nos tornamos mais poderosos que os demais jogadores.

A complexidade se tornará ainda maior ao encontrarmos outras civilizações, já que a partir daí entrará em cena a dança da negociação. Caberá ao jogador optar por ter uma relação diplomática com as outras nações ou tentar eliminá-la usando a força bruta, mas é preciso lembrar que ambas as abordagens poderão ter consequências que se estenderão por muitas e muitas rodadas.

No caso de um confronto, seja com outros povos, seja com animais que podem ser caçados, o jogo nos dá a opção de comandarmos as tropas manualmente, escolhendo suas posições no mapa ou deixar que tudo se resolva sozinho. Antes das batalhas poderemos ver qual a probabilidade de vitória e se a balança estiver a seu favor, basta deixar que a inteligência artificial chegue ao resultado ao pressionarmos apenas um botão.

Sendo bastante simples e pouco empolgantes, eu não posso dizer que gostei muito desta parte do Humankind. No fundo, a nossa maior preocupação será com o terreno, já que as unidades que estiverem num ponto mais alto terão grande vantagem. Aí restará fazer com que os dados rolem, esperar uma rápida animação e torcer para que sobre mais unidades no nosso lado do que no do inimigo.

Com isso não quero dizer que as batalhas sejam ruins ou desnecessárias. Seria impossível (ou no mínimo bastante sem graça) um jogo que se dispões a nos colocar no comando de impérios e sem que eles pudessem subjugar os outros usando seu poderio militar. Mesmo com essa estratégia não sendo essencial para a vitória, ela precisava estar disponível e muitos certamente recorrerão aos conflitos para alcançar o principal objetivo.

Em busca da glória

E por falar em vencer, em Humankind o foco é deixarmos a nossa marca na história e isso será feito ao obtermos glória. Recebida ao erguermos enormes cidades, descobrir maravilhas da natureza, conquistar façanhas pelo mundo ou assimilar povos independentes (entre outros), a glória não poderá ser perdida e será usada no final de uma partida para calcular qual civilização conseguiu se destacar mais.

Ao adotar este modelo, a Amplitude fez com que as partidas se tornassem bem menos frustrante, já que elimina a possibilidade de outro jogador vencer ao atingir antes uma condição diferente da sua. Ele também faz com que o título se aproxime mais da realidade, afinal muitas civilizações continuam sendo lembradas atualmente, mesmo tendo acabado há muito tempo. Por fim, o sistema de glória permite que alguém saia vencedor de uma partida mesmo após ter sido eliminado, bastando que ninguém atinja sua pontuação.

Por tudo isso é importante que as pessoas fiquem atentas ao sistema de estrelas dadas em cada era. Essa premiação será alcançada ao completarmos certos objetivos, como descobrir um determinado número de curiosidades, controlar alguns territórios, destruir X unidades militares inimigas ou uma desenvolver uma certa quantidade de tecnologia.

Vale citar que essas estrelas renderão mais glória caso estejam relacionadas a cultura que tivermos escolhidos. Ou seja, se você estiver no comando de uma civilização voltada para o combate, valerá muito mais a pena partir para o confronto do que tentar desenvolver a ciência. É por isso que precisamos ter muito cuidado ao escolhermos a cultura que seguiremos em Humankind, com a atenção a precisão histórica influenciando profundamente a jogabilidade.

Um pequeno passo para o homem…

Para quem está habituado com a franquia Civliziation, um dos maiores problemas do Humankind pode ser a falta de originalidade. Mesmo com o jogo tentando se diferenciar aqui ou ali, ele segue os mesmos passos da sua clara fonte de inspiração e particularmente não vejo isso como um problema. No entanto, antes de fazermos qualquer comparação — e ela é inevitável — precisamos levar em consideração que a série que carrega o nome de Sid Meier está sendo aperfeiçoada há 30 anos.

Sendo assim, por se tratar do possível primeiro capítulo de uma franquia que poderá se estender por um bom tempo, acredito que o trabalho feito pela Amplitude Studios tenha sido espetacular, com as novas ideias inseridas na jogabilidade tendo servido para dar trazer um frescor ao gênero. Se isso resultará em uma divisão entre os fãs no futuro, assim como acontecem com um FIFA x PES; Call of Duty x Battlefield etc., é muito cedo para sabermos. O que pode ser dito por enquanto é que os franceses estão no caminho certo.

Agora peço licença, pois preciso ir ali jogar mais algumas rodadas e tentar resolver o impasse diplomático que causei ao invadir o território de uma nação vizinha, mesmo depois de termos acertado que isso não poderia acontecer.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.