Far Cry 6

De acordo com uma antiga frase bastante conhecida no meio do futebol, “em time que está ganhando não se mexe”. Isto pode ser válido para equipes que se tornaram praticamente imbatíveis, mas quando se trata de jogos eletrônicos, a falta de novidades nem sempre é algo muito bem aceito pela comunidade.

Chegando ao sexto capítulo, a série Far Cry há muito tem sido conhecida por algumas características marcantes, como seus vastos mundos abertos; os belos gráficos; uma jogabilidade que nos dá muita liberdade; a abordagem de temas políticos; e vilões bastante cruéis, mas extremamente interessantes.

Então, quando a Ubisoft anunciou o desenvolvimento do Far Cry 6, o que grande parte dos fãs esperavam era justamente um apanhado de tudo isso e para o bem ou para o mal, o novo jogo não foge das suas raízes.

¡Viva La Revolución!

Ambientado na fictícia ilha de Yara, no jogo conheceremos as muitas dificuldades vividas pelo povo local devido ao regime autoritário implantado por Antón “El Presidente” Castillo. Interpretado pelo excelente Giancarlo Esposito, o déspota controla o país com mãos de ferro, mandando eliminar todos que se opõem ao seu governo e desfrutando de mordomias oferecidas pelo poder enquanto a população padece.

Filho do antigo ditador Gabriel Castillo, que foi derrubado por um levante ocorrido em 1967, Antón se elegeu em 2014 com a promessa de reerguer o país e para isso ele teria uma carta na manga, uma droga chamada Viviro. Produzida a partir do tabaco presente na ilha, ela seria usada para o tratamento do câncer e o dinheiro arrecadado serviria para trazer tempos melhores para os moradores do lugar.

Porém, sem que a situação mudasse e as Fuerzas Nacionales de Defensa (FND) fossem enviadas às ruas para escravizar o povo, um grupo conhecido como Libertad decide agir e valendo-se da tática de guerrilha, tentará destituir o fascista do poder. Neste imbróglio seremos Dani Rojas, um homem ou mulher que se juntará à resistência e se tornará peça fundamental para livrar Yara.

Claramente inspirado na história de Cuba, o enredo do jogo aproveita o momento atual do mundo para fazer a sua crítica social, mas assim como nos anteriores, o Far Cry 6 aborda o tema de forma um tanto branda, quase nunca se aprofundando muito nas questões políticas.

O problema é que ao ficar em cima do muro a série acaba desagradando tanto aqueles que defendem que política e games não devem se misturar, quanto os que acham que a mídia deveria usar melhor a sua força para entregar críticas sociais. Eu prefiro acreditar que, mesmo de forma simbólica, o posicionamento está ali, bastando ao jogador digerir a mensagem que foi passada.

“Uma vez guerrilheiro, sempre guerrilheiro”

Se você já experimentou algum jogo da franquia, sem dúvida se sentirá em casa ao iniciar uma campanha do Far Cry 6. Nele você encontrará a estrutura que consagrou a marca, que é o incentivo à exploração do gigantesco mundo disponível (o mapa tem 88 km²) e à realização das inúmeras missões que nos serão apresentadas.

No meio tempo teremos a oportunidade de invadir pontos de controles e quartéis da FND, com o jogo nos permitindo fazer isso de maneira sorrateira ou usando a força bruta. Em ambos os casos a variedade não é algo do qual o título pode ser orgulhar e apesar dos confrontos serem bastante divertidos e oferecerem algum desafio (principalmente para quem gosta de jogar sem ser detectado), com o passar do tempo se torna repetitivo o ato de observar os locais a distância, marcar inimigos e alarmes, e partir para o ataque.

Reaproveitando a ideia de termos companheiros para nos ajudar nos combates, a diferença é que aqui saem os humanos e entram animais com habilidades diferentes. De um crocodilo usando uma camiseta e que pode atacar os inimigos a um simpático cachorrinho que usa seu charme para distrair os soldados de Antón, eles podem mudar completamente o campo de batalha.

Já a novidade vem na forma dos Supremos, uma mochila que nos garantirá diversas formas diferentes de ataque. Com ela poderemos fazer cair uma chuva de mísseis nos inimigos, disparar uma onda eletromagnética que desativará aparelhos eletrônicos ou enxergar inimigos que estiverem atrás de objetos ou paredes.

Disponibilizados após um certo tempo, esses “poderes especiais” também podem nos ajudar muito a fugir de situações bastante complicadas. Para alguns poderá soar estranho alguém ter um equipamento tão poderoso feito com sucatas, mas ele se encaixa bem na proposta de um lugar em que os guerrilheiros precisam aproveitar tudo o que encontrarem pelo caminho, além de não fugir muito da galhofa típica da série.

Eu também gostei de termos a opção de guardar nossas armas enquanto não estivermos em missões, permitindo assim que o mapa possa ser explorado sem precisarmos nos preocupar com os soldados inimigos. Outro elemento bem vindo é o sistema de notoriedade e reputação, que aumentará conforme realizarmos ações contra a FND e podendo até nos levar a ser perseguidos por uma força de elite.

Far Cry 6

Um jogo de nova mudança de geração

Mas enquanto não tinha muita expectativa de que o Far Cry 6 traria grandes mudanças em relação a jogabilidade, o mesmo não pode ser dito quanto aos gráficos. Com a chegada da série à nona geração de consoles, a minha expectativa era de que visualmente ele fosse deslumbrante, mas não foi exatamente isso o que aconteceu.

Por um lado, Yara é um lugar fantástico, com suas lindas praias, florestas e vilas sempre me fazendo querer parar para admirar os cenários. É muito legal podermos conhecer algo como uma versão virtual de Cuba, com seus antigos carros trafegando pelas ruas, as casas com a arquitetura típica do país caribenho ou o lindo pôr do Sol refletindo nas águas do mar.

Mesmo sem contar com Ray-tracing no PlayStation 5 ou Xbox Series S|X, não tenho o que reclamar dos cenários, com a iluminação e sombras funcionando muito bem e as texturas conseguindo entregar um alto nível de detalhes.

Porém, quando se trata dos personagens a situação é completamente diferente. Com animações faciais pobres e movimentos corporais muito artificiais, a impressão é que temos NPCs da geração anterior colocados num jogo da atual. Parece que faltou tempo para a equipe aproveitar melhor o poderio dos novos consoles, o que me faz acreditar que apenas no próximo jogo teremos a real noção do que a série ainda pode alcançar graficamente.

Far Cry 6

♫ El castillo, la torre, yo soy ♪

Para quem procura novidades ou nunca se interessou muito pelo estilo da série, o Far Cry 6 não é o jogo que você está procurando. Já para quem adora poder explorar um mapa enorme, ter muita coisa para fazer e uma boa mistura de ação com furtividade, a Ubisoft conseguiu repetir a dose e ainda implementar um ou outro elemento inédito.

Só é uma pena que mais uma vez a empresa tenha perdido a oportunidade de abordar a política de maneira mais profunda em um jogo da franquia e fugir do apelo aos estereótipos, com o possível medo de desagradar parte do seu público tendo novamente norteado um roteiro que poderia ser muito mais interessante. Mesmo o antagonista não consegue repetir o fascínio causado por aqueles que o antecederam na franquia — mas pelo menos a atuação de Esposito mantêm o característico bom nível do ator.

Eu não sei ao certo se parte dos problemas apresentados no Far Cry 6 se devem ao natural desgaste da série, com ela precisando passar por uma reformulação para os próximos jogos, ou até que ponto o desenvolvimento foi prejudicado pela pandemia que o mundo enfrentou nos últimos meses. De toda forma, tenho me divertido bastante com o jogo e já estou na expectativa para os DLCs que explorarão os vilões dos três capítulos anteriores.

http://www.vidadegamer.com.br
Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.