Gleylancer

Durante a década de 90 eu fui um frequentador assíduo de locadoras e isso me permitiu conhecer grande parte do catálogo dos videogames daquela época. Mesmo assim, muitos jogos acabaram fugindo do meu radar e um deles se chamava Advanced Busterhawk Gley Lancer, ou simplesmente, Gleylancer.

Mais um dos ótimos “jogos de navinha” lançados para o Mega Drive, ele fez algum sucesso entre os fãs do gênero, mas o fato de não ter recebido uma versão ocidental impediu que a aquela criação da NCS Corporation se tornasse mais popular por aqui.

Felizmente a distribuição digital ajudou a ressuscitar alguns clássicos e até corrigir essas “falhas de distribuição”, permitindo que títulos até então exclusivos dos japoneses pudessem ser aproveitados oficialmente por nós. Foi assim que em 2008 o Gleylancer apareceu no Wii através do Virtual Console, mas a versão definitiva do jogo só surgiria agora, quase três décadas após o lançamento do original.

Uma remasterização de respeito

Disponibilizar jogos antigos para os videogames modernos é algo que se tornou bastante comum, mas poucos são aqueles que conseguem ir além de uma mera emulação. Normalmente o que vemos nesses relançamentos é um conjunto de filtros que imitam telas CRT e, quando muito, trazem um museu virtual com artes conceituais e uma ou outra curiosidade.

Já no caso desta nova versão do Gleylancer, o trabalho realizado pela Ratalaika Games é digno de todos os elogios. Na parte visual não há muita diferença em relação a outros jogos emulados, com o título nos permitindo encarar o tiroteio espacial nas proporções 4:3 ou esticada, além de oferecer alguns filtros para imitar as scanlines.

Porém, a coisa muda completamente de figura quando se trata da jogabilidade. Para começar, nele teremos a possibilidade de salvar o progresso a qualquer momento e ainda teremos acesso a uma função de retroceder o tempo, bastando apertar um botão para fazer isso. Por se tratar de um shoot ‘em up, gênero onde reflexos rápidos são fundamentais, a função torna a experiência muito mais acessível, permitindo que até os novatos consigam avançar.

Além disso, outra mudança muito bem vinda e que facilitará bastante a nossa vida é a possibilidade de controlarmos os pods que nos acompanham. Embora o original contasse com diversas maneiras de fazer isso, agora essas armas adicionais podem ser apontadas para a direção que quisermos apenas ao movermos o analógico direito.

Os desenvolvedores também tiveram o cuidado de facilitar a troca de velocidade da nave, algo que antes deveria ser feito sequencialmente, mas agora temos um botão para deixar a CSH-01-XA “Gley Lancer” mais rápida ou mais lenta.

Todas essas melhorias acabam deixando o jogo muito mais fácil, mas para quem gosta de um bom desafio, saiba que é possível encarar a campanha no modo original, fazendo com que ele funcione de maneira idêntica a o que tínhamos no antigo console da Sega.

É shmup, mas pode chamar de ópera espacial

Normalmente quando pegamos um jogo deste estilo não nos preocupamos muito com o enredo, mesmo porque são raros aqueles que nos entregam algo minimamente interessante. Porém, não é isso o que acontece com o Gleylancer.

Com sua história sendo contada através de belas ilustrações, ela se passa no ano 2025 e gira em torno de Lucia, uma garota de 16 anos que se torna piloto da Earth Federation. É esta a força militar responsável por combater uma misteriosa raça alienígena que ameaça a Terra e após o pai da protagonista ser capturado pelos invasores, ela sai em uma perigosa missão de resgate.

Sendo a primeira vez em que o jogo teve seus textos traduzidos oficialmente para o inglês, é muito legal acompanhar a saga de Lucia e poder entender o drama pelo qual ela vai passando. Também chama a atenção a duração do jogo, com suas 11 fases fazendo com que ele seja muito mais longo que a maioria dos outros shoot ‘em ups.

Gleylancer

A beleza encontrada no espaço

Embora não tenha recebido melhorias nas partes visuais e sonoras, Gleylancer é um jogo tecnicamente impressionante. Tudo bem, os cenários podem não ser muito variados ou contar com uma quantidade grande de detalhes, mas o efeito de paralaxe é muito bonito e mostra como o Mega Drive podia gerar belos visuais. Destaque para a ausência de quedas de frames nesta versão, o que faz com que algumas partes sejam alucinantemente rápidas.

Já a parte sonora é um espetáculo à parte. Para mim, todas as músicas presentes no jogo são excelentes e arriscaria dizer que as composições de Isao Mizoguchi, Masanori Hikichi e Noriyuki Iwadare conseguem até superar o que nos acostumamos a ouvir em outros representantes do gênero muito mais famosos, como R-Type ou Gradius.

Um clássico (finalmente) acessível a todos

Disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series S|X e Nintendo Switch, Gleylancer é um daqueles jogos que conseguem nos conquistar nos primeiros minutos e que nos fazem perguntar como fomos capazes de ignorá-lo por tanto tempo.

Tendo envelhecido muito bem, as melhorias trazidas nesta nova versão fazem com que aquilo que já era ótimo se tornasse ainda melhor e fico na torcida para que o interesse do público por este relançamento motive os donos da marca a iniciar a criação de uma continuação.

Após experimentar este clássico, considero que ele seja obrigatório para qualquer pessoa que goste de shmups e como ele está disponível por um preço bastante acessível, não há desculpas para não dar uma chance a esta joia que estava perdida no vasto catálogo do Mega Drive.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.