Além de uma expectativa que não consegue ser correspondida, uma das piores coisas que podem acontecer em relação a um jogo é ele nos entregar uma jogabilidade bem diferente da que imaginamos. Em ambos os casos a frustração acaba sendo o resultado e foi isso o que aconteceu comigo com o Hazel Sky.

Hazel Sky

Desenvolvido pelos brasileiros da Coffee Addict Studio, Hazel Sky nos coloca na pele de Shane Casey, um jovem morador da cidade flutuante de Gideon e descendente de uma família de renomados engenheiros. Vistos como as pessoas mais respeitadas da comunidade, uma casta acima dos demais trabalhadores e artistas, ele precisará garantir o seu título e para isso, terá que passar por uma provação.

O jogo inicia com o protagonista chegando a uma ilha, onde terá que montar um avião e com ele tentar voltar para casa. Essa premissa foi o que chamou minha atenção para o Hazel Sky, mas após entender como funcionaria a missão de Shane, não consegui evitar o desânimo.

O problema é que embora eu tivesse pensado que a aventura funcionaria como um jogo de sobrevivência, na verdade ela se resume a nos colocar para procurar alguns itens, solucionar quebra-cabeças que não apresentam muita dificuldade e remendar as “máquinas voadoras” presentes nas três ilhas que visitaremos.

Trata-se de uma mecânica simples, com o jogo sendo muito mais guiado pela história, do que pelo desafio, fosse ele intelectual ou de habilidade. Mesmo adorando títulos que se escoram no enredo, o fato é que não era exatamente isso o que esperava do Hazel Sky.

Antes de iniciar a saga de Shane para provar o seu valor, a impressão que tinha do jogo era de que nele teríamos algo nos moldes de um Astroneer ou Raft. Assim teríamos que coletar os mais variados recursos, montar as máquinas, realizar testes e torcer para as nossas criações aguentassem a viagem de volta para casa.

Contudo, a criação da Coffee Addict Studio pula essas etapas, entregando aeronaves praticamente prontas e que foram montadas por jovens que passaram antes por ali. Caberá então a Shane a tarefa de explorar as ilhas, encontrar o que está faltando e partir para o voo.

Algo que ajuda a quebrar um pouco a monotonia da aventura é a “companhia” de Erin. Realizando seu teste em outra ilha, a garota estará em contato conosco através de um rádio, algo parecido com o que temos em Firewatch, e a maneira como ela encara o rito de passagem é muito diferente da nossa, fazendo com que o protagonista comece a abrir os olhos para como a sociedade funciona.

E além de Erin, o que ajuda a formar o interessante universo de Hazel Sky são os livros e anotações que encontramos pelo caminho. Neles veremos os pensamentos deixados pelas pessoas que se arriscaram antes de Shane, com os textos falando sobre Gideon, seus moradores e os engenheiros.

Mas além da boa construção do mundo, o que me motivou a continuar jogando foi a exploração. Apesar de o jogo pecar nas sequências de escaladas por elas serem exageradamente simples, as ilhas a que temos acesso são legais, com vários lugares a serem visitados e com um bom nível de detalhes. Com vários itens colecionáveis guardados por chaves ou cadeados numéricos, será preciso ficar atento aos cenários e anotações.

Por falar em cenários, ao lado da bela trilha sonora — com destaque a podermos tocar violão em certas partes —, os gráficos são um dos pontos altos do jogo. Dos efeitos de iluminação a direção artística, quase tudo na parte visual me agradou, com as ilhas sendo relativamente vastas e apresentando vários pontos de referência.

A exceção nesse aspecto são os modelos dos personagens, principalmente nos rostos. Mesmo sabendo que criar a face de um personagem está longe de ser uma tarefa simples, o pessoal da Coffee Addict Studio deixou a desejar nesse quesito, com Shane destoando muito do resto do jogo. Não chega a ser algo que atrapalhe a experiência, mas é difícil não ficar incomodado com o rosto do protagonista.

 

Contudo, Hazel Sky está longe de ser um jogo ruim. Talvez ele tenha sido vítima da maneira equivocada como o imaginei. Durante a sua (curta) campanha eu fiz um tremendo esforço para gostar dele e por mais que o título tenha me entregado alguns momentos interessantes, não era exatamente o que eu esperava.

Portanto, desde que você o encare como um jogo focado na história e com algumas pitadas de exploração e quebra-cabeças, será possível encontrar uma aventura bacana ali. Eu só gostaria de ver o pessoal da Coffee Addict Studio ser um pouco mais ousado no seu próximo projeto, pois talento eles já mostraram que possuem.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.