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Eu devia ter uns cinco ou seis anos de idade, meu irmão do meio tinha acabado de sair do berço para sua primeira cama, quando meu pai, que tentava a sorte como empreendedor, viajou para Assunção e me trouxe um Dactar, clone do Atari nos anos 1990. Foi meu primeiro contato com os videogames.

Uau! Aquela caixinha cinza que imitava uma maleta trazia consigo o jogo de Tênis na memória, e meu pai, em sua generosidade adquiriu também outros clássicos. A memória falha ao tentar recordar quais foram meus primeiros cinco jogos, mas tenho certeza que ao Tênis juntaram-se SeaQuest, Baseball, Gluton (jogo maneiríssimo onde eu era uma pasta de dente e precisava limpar os alimentos que tentavam carear os dentes de uma boca), e outros dois cartuchos que por mais que me esforce, não vou lembrar agora.

Aquela coleção inicial não seria o bastante, meu pai, que vivera sua juventude nos anos 70/80 ainda se encantava com as histórias ouvidas sobre o Atari 2600, que havia sido lançado em 1977, e assim logo ganhei Enduro, River Raid, Megamania

Meu pai fazia muitas trocas e, em contato com gente que havia migrado de geração, indo para o Master System ou Nintendo 8 bits, conseguia jogos a um preço baixo.

O Dactar queimou no primeiro ano de uso, graças a um curto na rede elétrica, mas meu pai, graças aos seus contatos logo conseguiu um autêntico Atari 2600 de segunda ou terceira mão. Lembro de ter ido com ele na casa de algum conhecido para buscar esse Atari, e voltávamos com dois videogames, um Atari batido que veio a ser o meu e um outro Atari que ele “pegou pra rolo” que seria o dele, que estava na caixa ainda e não me lembro de tê-lo visto ligado.

Meus jogos iam se acumulando numa caixinha de sapato.

Como meus primos e alguns vizinhos também tinham um Atari, lembro de pegar minha Caloi aro 20″ antes dos 9 anos de idade e pedalar como um louco com o Michel (meu primo 3 anos mais velho que eu) para conseguir os jogos que ainda não tínhamos.

Era uma época mais simples. Podíamos andar na rua sem medo de assalto, emprestávamos jogos para desconhecidos e pegávamos jogos com eles e as regras eram basicamente: 18h em casa, mantenham boas notas e se fulano perder ou quebrar meu jogo, fulano paga.

Aquela caixinha de sapato teve de ser trocada, pois em breve estaria com 21 cartuchos de Atari.

Lembro bem de alguns outros jogos dessa caixinha além dos já citados:

  • Bobby-homeBobby is Going Home
  • Superman (primeiro jogo que zerei)
  • Boom bang
  • Time Warp
  • Frostbite
  • River Raid 2
  • Combat
  • Air-Sea Battle
  • Pinball

Seria um verdadeiro tesouro nos dias de hoje. Aquela caixinha velha de um tênis Olympikus Running 100, branco por causa da escola (é, eu lembro) não era o bastante para minhas ambições. Logo escolhi uma gaveta da cômoda para guardar os controles extras, torretas e “ferramentas” para consertar os joysticks de Atari que quebravam.

Essa coleção de jogos de Atari cresceu até os 27 games, quando em 1997, ajudei um vizinho a terminar uma calçada (sim, naquela época criança de 13 anos podia fazer pequenas tarefas sem morrer) e ele me presenteou com R$ 50,00. Esse dinheirão (na época o salário mínimo era R$ 120,00), me serviu para comprar o Master System 2 do meu primo Thiago, que acabava de ganhar o SNES e não iria mais precisar do console da TecToy.

Uau, meu Master System 2 vinha com Alex Kid in Miracle World na Memória. Os cartuchos Wanted, Zaxxon 3D e Keinsenden também vieram no pacote, que ainda acompanhava a incrível pistola e os pesados óculos 3D que incrivelmente funcionavam.

Ô criança azarada, em menos de uma semana, a fonte do Master System queimava e o conserto seria caro, R$ 50,00 na autorizada da TecToy que ficava perto dos correios.

Minha mãe veio em meu auxílio. Resolveu que não iria consertar aquele “videogame velho”, iria me comprar um novo na loja. Fomos no Ponto Frio, e ela fez um carnê de 10 prestações de R$ 38,00 para me trazer um SNES com o Super Mario World no Natal desse mesmo ano (1997).

Ajudei minha mãe a pagar aquele videogame novo. Como?

Naquela época, a feira livre da minha cidade havia sido deslocada para a frente da minha casa e eu montei uma barraquinha para vender meus jogos antigos. Vendi vários jogos e acessórios. Minha tia arrematou o Atari e uns 15 jogos, acho que cobrei R$ 35,00 pelo conjunto) e assim eu ajudei a minha mãe a pagar um pouco do SNES.

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Para a minha sorte, o meu primo Thiago tinha muitos amigos que tinham o SNES. Agora, numa Caloi aro 26″ (é, eu estava crescendo) eu ia mais longe buscar meus jogos. Fizemos amizades em locadoras, busquei games nas cidades vizinhas, descobrimos um feirante que trocava games independente do estado do cartucho com o ágio de apenas R$ 1,00. Foi a glória!

Troquei vários cartuchos de apenas um jogo por cartuchos de cinco ou sete jogos, que depois eram trocados na rua por dois cartuchos 😀 … moleque empreendedor esse. (Depois eu conto de quando a locadora faliu e vendiam três jogos por R$ 20,00)

Fiquei com meu SNES até à faculdade, meu SNES esteve comigo dos 13 aos 18 anos, quando em 2002, resolvi trocá-lo por jogos e acessórios para o meu recém adquirido Dreamcast. Afinal, como o DC rodava emulador de SNES e eu não precisaria mais do console da Nintendo (na minha cabeça). Com o Dreamcast eu perdi a linha rsrs

Pela primeira vez conheci a pirataria, e sim, eu baixei nos torrents da vida toda a biblioteca do Dreamcast, ainda conservo o finado console e os jogos em três estojos. Não me orgulho dessa “coleção”, mas joguei muita coisa legal por conta dela.

Novamente fui tentado por um novo console e assim, em 2005 eu adquiri um PlayStation 2. Poucos jogos originais passaram pelo meu PS2, uns 10 no máximo. DVDs a R$ 0,50 e os amigos como fornecedores nunca me incentivaram a comprar jogos originais. Acho que o chip Matrix nunca trabalhou tanto.

playstation-2Como eu já estava trabalhando, não precisei trocar um videogame pelo outro. Jogos baratos (\o/ viva JackSparrow) me permitiam esse luxo. O meu case de jogos foi crescendo até mais ou menos setembro de 2009 quando tomei coragem. Incentivado pelos amigos, por uma promoção do Submarino, e por uma comunidade do Orkut que me apresentou aos sites de compras estrangeiros (o dólar custava menos de R$ 1,00 naquele ano) eu comprei meu PS3.

Fiz um esquema ousado: Comprava dois jogos lá de fora e vendia um aqui no Brasil via Mercado Livre, logo estava jogando de graça e a minha coleção de jogos de PS3 cresceu até virar um backlog (sic) injogável.

Tenho mais de 60 jogos de PS3, isso em mídia física. No meu HD de 1TB no console eu nem arrisco contar (graças à PSN+) e mesmo assim duvido que tenha aproveitado mais o PS3 do que o SNES ou o Atari.

Recentemente adquiri um Wii U e a coleção já está em 15 jogos. Sério… eu preciso parar de comprar jogos rsrs

Atualmente mantenho:

  • o Dreamcast
  • um SNES recentemente comprado
  • um N64 (que foi trocado pelo meu primeiro PS3 que sofreu YLOD)
  • um Xbox 360
  • um NintendoDS e um 2DS
  • um outro PS3
  • um WiiU

É… deve ser por isso que não fiquei rico. Tenho muitos “filhos” para sustentar. E as crianças são bem gulosas, visto que só o Dreamcast conheceu Davy Jones e Jack Sparrow.

Jônatas Afonso, deus grego, explorador audacioso, artilheiro da copa do mundo, encanador bigodudo, piloto de karts e aviões, atirador de elite, chefe da Horda, membro da SWAT, assassino silencioso, um pequeno pixel na tela... E um ciclista quando falta luz ou preciso sair do meu mundinho.