tunche

Desde que vi uma máquina de Final Fight rodando pela primeira vez, minha paixão pelos beat em’ ups foi imediata. Para mim, este é um dos gêneros mais legais que existem e quando soube que os peruanos da LEAP Game Studios estavam fazendo o Tunche, jogo que seria ambientado na floresta amazônica, fiquei ansioso para ver como ele tinha ficado.

Em Tunche cinco personagens (incluindo a Criança de Chapéu, saída diretamente do aclamado jogo A Hat in Time) sairão à procura da criatura mística que empresta seu nome ao jogo e que tem despertado os monstros da região. Isso os colocará diante de uma enorme quantidade de inimigos, entre eles alguns chefes de fases baseados no folclore amazônico.

Só por explorar uma cultura tão rica e que raramente é usada em obras do tipo, acredito que o jogo já merecia entrar no radar de todos, especialmente nós, brasileiros. Some a isso o fato de cada personagens contar com seu próprio enredo que se entrelaça com o dos demais, o que deixa claro a dedicação da desenvolvedora e o orgulho que eles possuem das suas raízes.

Já em se tratando da jogabilidade, Tunche foi, para mim, a mistura de dois sentimentos distintos. Por um lado, adorei o sistema de combos que é fácil de ser aprendido, mas que possui um nível de profundidade capaz de nos oferecer uma boa variedade. Como cada personagem possui um estilo de luta próprio e as diferenças entre eles se farão ainda mais presentes ao desbloquearmos suas respectivas árvores de habilidades.

Mesclando golpes de curta e longa distância, os combates costumam ser bastante frenéticos, até por causa da grande quantidade de inimigos presentes na tela. Além disso, esta “urgência” em estarmos sempre em combate se deve ao sistema de combos, que fará aumentar uma pontuação e que por sua vez nos dará acesso a salas especiais.

Contudo, o grande problema de Tunche está na sua repetição e isso se deve, principalmente, à sua estrutura. Assim como muitos jogos indies lançados atualmente, este também foi criado como um roguelite e isso significa iniciar uma partida, eventualmente morrer e ser enviado de volta a uma zona de segurança, para assim melhorarmos o nosso personagem.

De maneira resumida, este modelo nos obrigará a ter que refazer o processo muitas e muitas vezes, mas por se tratar de um jogo feito para um gênero que muitos criticam justamente pela falta de variedade, para parte dos jogadores esta sensação de não estarmos progredindo poderá ser ainda mais crítica.

Pode ser que o problema em relação a isto seja comigo, pois confesso que já há algum tempo tenho andado um tanto impaciente com roguelites. Mesmo gostando do conceito de podermos nos tornar melhores após cada erro, a quantidade de títulos que tem recorrido a esta mecânica se tornou muito grande e não escondo que já parto para estas aventuras com uma certa resistência.

No entanto, se você gosta de roguelites ou pelo menos não se incomoda com a maneira como eles funcionam, encontrará em Tunche um dos gráficos 2D mais bonitos de últimos tempos. Com seus cenário (que achei um pouco repetitivos) e personagens desenhados a mão, a impressão é de estarmos assistindo uma daquelas animações típicas de canais infantis, como Cartoon Network ou Nickelodeon. Com uma direção artística impecável, também merece destaque a trilha sonora, que ajuda muito a criar a atmosfera da floresta amazônica.

Mas além de ser mais uma bela demonstração de como os gráficos em duas dimensões podem entregar experiências fantásticas, Tunche é um daqueles títulos que deveriam servir como exemplo de como a distribuição digital e a ascensão dos indies deveriam ser mais comemorados. Se voltarmos uns 20 anos no tempo, quem poderia imaginar que um dia veríamos o lançamento de um beat em’ up desenvolvido no Peru e que teria a floresta e o folclore local como pano de fundo?

Por sempre defender os videogames como uma excelente forma de disseminação cultural, ver a chegada de um título como este é um evento que me deixa muito feliz. Numa analogia que pode ser bastante rasa, considero como algo tão ou até mais importante do que um filme estrangeiro levar o Oscar.

Felizmente, graças a dedicação do pessoal da LEAP Game Studios e da facilidade de distribuição de jogos que temos hoje em dia, Tunche fará com que milhares, talvez milhões de pessoas possam conhecer um pouco daquela fantástica região. Por isso, só posso dar os parabéns aos criadores por terem nos dados esta grande oportunidade.

Tunche está disponível para PS4/5, Xbox One/Series S/X, Nintendo Switch e PC.

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Pai em tempo integral do pequeno Nicolas, enquanto se divide escrevendo para o Meio Bit Games e Vida de Gamer, tenta encontrar um tempinho para aproveitar algumas das suas paixões, os filmes, os quadrinhos, o futebol e os videogames. Acredita que um dia conseguirá jogar todos os games da sua coleção.