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Desde que assisti de Volta para o Futuro 2 eu sonho com hologramas nos games. Fico sempre imaginando como seria legal jogar um game qualquer e poder visualizar um avião atacando outro na minha sala de estar, uma corrida de kart no chão do meu quarto e uma luta de Mortal Kombat acontecendo no chão da minha cozinha. Basicamente eu queria ser possível ver meus brinquedos se mexendo sozinhos e ter alguma interação com eles.

Essa semana mesmo eu falava sobre isso com a dona Maria: “Já temos gráficos de ponta, já temos a capacidade de contar histórias nos games tão emocionantes quanto os filmes ou livros, e até mesmo com as tecnologias que ainda não mostraram todo o seu potencial (Kinect, WiiMote, Pirulito da Sony) e já podemos jogar sem precisar de joysticks. A próxima evolução dos games que deve mudar o mundo serão os hologramas“.

Pelo menos para mim, ainda não existe justificativa para trocar meu PS3 por um PS4, meu Xbox 360 por um Xbox One. Ainda não foram lançados os jogos que definem a necessidade da mudança de geração.

Aliás, eu sou meio conservador quanto a isso, fiquei com o meu Atari 2600 por anos até trocá-lo por um Master System que durou menos de uma semana, e depois mantive meu SNES por vários anos até que o Dreamcast me encantou. Depois, foi a vez do PS2 me encantar com a EyeToy, que era basicamente o projeto Kinect feito pelo Estúdio de Londres da Sony, uma câmara pré-kinect que captava nossos movimentos em 2D (e que teve jogos muito mais legais do que o Kinect teve até agora).

Robert Cringely, jornalista americano, defende no excelente livro Accidental Empires, publicado no Brasil originalmente pela Editora Record com o nome curioso de Impérios Acidentais: Como os garotos do Vale do Silício ganham milhões, mas não arranjam namoradas; que toda a história de sucesso de um dispositivo de hardware se baseia na existência de um software matador. Um software que por si só justifique a compra de todo um hardware. Sou obrigado a concordar com ele.

EyeToyDesde que comecei a me sustentar, todos os meus dispositivos foram escolhidos com base nessa premissa: só comprei o PS2 porque me encantei com os jogos da EyeToy e depois conhecendo God of War, senti a real necessidade de adquirir um PS3 para jogar God of War III.

Cringely cita vários exemplos dessa definição de software matador, e com muito afinco, chega a creditar o sucesso do Apple II ao VisiCalc, primeira planilha eletrônica que foi desenvolvida incialmente para o Apple II simplesmente porque era o computador que o desenvolvedor possuía. O Apple II chegou a ser chamado de “máquina de rodar VisiCalc”.

Pois bem,  em junho de 2009, na E3 o mundo ficou embasbacado com o anúncio do Kinect. Enquanto a Sony via sua EyeToy apenas como um acessório e sequer promovia o excelente periférico fora da Europa, a Microsoft traçou toda a sua estratégia em torno do Kinect. O Kinect seria o novo joystick, nosso corpo seria magicamente transportado para o mundo dos games e lá seríamos o grande goleador Alejo, o Speed Racer da Fórmula 1, o famigerado boxeador… A proposta era excepcional, mas cinco anos e meio depois eu me pergunto: “Onde estão os jogos que vendem o Kinect?

Ok, dona Maria e suas amigas se divertem nas sextas-feiras dançando com o Kinect e vendo os marmanjos com gingado de árvores tentando acompanha-las, um ou dois joguinhos do Kinect Adventure fazem transpirar, Forza 4 tem uma pista que pode ser transposta só com movimentos do meu corpo, e Kinectmals é bem fofinho para minha sobrinha.

Será que era só isso que a Microsoft tinha em mente? Vi muitos projetos fantásticos feitos por cientistas, pesquisadores, hackers, utilizando o Kinect. Um amigo me mostrou um projeto que estava desenvolvendo que utilizava-se do Kinect e de realidade aumentada para ensinar mecânica de aviões. Projetos envolvendo Kinects e drones foram apresentados, mas basicamente o Kinect não caiu nas graças das desenvolvedoras de games.

Refaço a pergunta: “Onde estão os console-sellers para o Kinect?; O que a Nintendo fez de novo com o uso do WiiMote nos últimos 3 anos?; E a Sony, onde ela enfiou o Move?

No final de 2013 estive numa das lojas da Saraiva e vi o New Super Mario Bros. U rodando. Não tive dúvidas, me senti como criança e fiquei encantado com os gráficos daquele que seria meu primeiro videogame dessa geração. Em menos de 30 minutos saia da loja com o meu Wii U debaixo do braço e com o maior sorriso que conseguia esboçar. Aquele game do Mario foi o meu console seller, e desde então a coleção de jogos para Wii U aumentou bastante. Já são 15 jogos de Wii U e outros tantos para Wii. Mas essa coleção só é interessante porque eu ignorei o Wii na geração passada e o que é novidade para mim, para outras pessoas não passa de mais do mesmo. O GamePad da Nintendo é um trambolho meio inútil.  Meio que ela mesma não sabe utilizá-lo ainda, e poucos jogos aproveitam sua tela touch com maestria. Sendo assim, a Nintendo ainda não se achou.

Ainda nesse contexto de aplicações que justifiquem a compra de um hardware, me lembro do Microsoft SmartGlass. Quando anunciado fiquei imaginando mil maneiras de integrá-lo aos meus games. Seria ótimo ter uma segunda tela para gerenciar meu inventário num RPG, eu poderia usar o SmartGlass como retrovisor em um jogo de corrida, poderia também usar para planejar meu time de futebol, observando estatísticas de jogo, estado de saúde dos jogadores… bom… eu vi aplicações, a Microsoft viu possibilidades, mas parece que a coisa não foi bem assim. O uso foi extremamente tímido, apenas cerca de 30 jogos fazem algum uso do SmartGlass .

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Ontem eu vislumbrei outra visão de futurologia, quando a Microsoft anunciou um projeto extremamente ambicioso, o HoloLens que é melhor explicado nesse artigo do TechTudo. Novamente, as possibilidades são enormes, para os jogos. Finalmente terei meus aviõezinhos voando na sala e explodindo tanques inimigos 😀 Para a arquitetura, poderemos ver maquetes virtuais de prédios, veículos e o que mais a imaginação mandar. Para a educação, poderemos visitar virtualmente o Coliseu, o Louvre e dissecar um corpo humano. “É muito bom viver no futuro” (não sei quem é o autor dessa frase).

A tecnologia para a holografia está às portas, nessa primeira iteração talvez não seja tão legal quanto o tubarão de De Volta para o Futuro 2, mas alguns problemas não tecnológicos precisam ser resolvidos antes que esse produto (ou qualquer outro) consiga o sucesso almejado. Entre eles destaco:

– Quebra de Paradigmas ou Evolução Disruptiva

Nos últimos anos, a maior parte do que vimos em tecnologia foi apenas o aperfeiçoamento de algo que já existia. Pro Evolution Soccer 2016  será uma evolução do International Super Star Soccer, assim como qualquer FPS herda características do Doom original. Fazer algo realmente novo, sempre gera estranheza.

Os executivos da Sony desdenharam do Walkman, afinal, nenhum consumidor iria ouvir música no meio da rua. Os executivos da HP desprezaram a invenção de Wozniak, o Apple I, afinal, nenhuma pessoa normal teria um computador sobre sua mesa de trabalho.

A evolução que esse produto propõe é tão a frente do que temos hoje que existe a possibilidade de os consumidores não entenderem o que está sendo oferecido.

Dizem que até mesmo, quando Jobs apresentou o iPhone, um aparelho que era um iPod, um dispositivo para acessar a Internet e um telefone ao mesmo tempo, vários participantes da palestra não entenderam o que ele estava anunciando.

A proposta do HoloLens é um salto no que temos hoje. E é preciso desenvolver um mercado para esse dispositivo.

– Custo para o consumidor final

Não estou observando uma ordem para as prioridades que decidirão o sucesso desse produto, mas é fato que ou a Microsoft lança uma versão barata do produto, no máximo de US$ 500,00 ou lança o HoloLens como um produto de nicho, específico para um ou outro mercado.

Essa decisão vai impactar na decisão dos desenvolvedores. Uma grande quantidade de hardware vendido oferece mais chances de vender meu software por um preço baixo e logo obter o retorno do investimento, vide o mercado de Windows Phone, que sendo menor que o do Android, nem sempre dá o retorno do investimento para os aplicativos lançados. Por outro lado, se a decisão for por um produto Premium, os poucos desenvolvedores deverão focar seus esforços em atingir esse público mais restrito para vender softwares mais caros.

Na minha opinião, a Microsoft deveria oferecer desde o início dois produtos, um HoloLens para o consumidor geral, custando algo em torno de US$ 250,00 e uma versão Premium para uso profissional. Seria uma forma de atingir os dois públicos, e assim aumentar suas chances de criar uma nova tendência.

– Desenvolvimento de boas ferramentas para desenvolvedores

Quando o PlayStation original foi anunciado pela Sony, a Sega se viu em apuros. Seu Saturn seria extremamente inferior ao produto da concorrência e incapaz de gerar gráficos em 3D. A solução foi acrescentar um processador 3D ao projeto do Saturn, que em teoria tornava o videogame da Sega um triunfo da tecnologia sobre o Playstation.

O problema é que esses conjunto de processadores, um para gráficos em 2D e outro para gráficos em 3D, tornou o desenvolvimento de software para o Saturn uma tarefa hercúlea. O desenvolvimento de um mesmo game para as duas plataformas gastava vezes mais tempo no hardware da Sega, e consequentemente, custava muito mais caro para as desenvolvedoras. O saldo disso é que o PlayStation teve muito mais jogos lançados que o Saturn.

[one_half][alert variation=”alert-success”]A Microsoft precisa lembrar do mantra do Steve Balmer – “Developers, developers, developers…“[/alert][/one_half]Todo hardware não tem sentido se não tiver software que o venda. Então, a Microsoft precisa de um conjunto de ferramentas fácil para que os desenvolvedores comprem a ideia de concentrar seus esforços em algo tão novo e arriscado.

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Estou sonhando com o futuro, mas muita coisa precisa ser trabalhada no HoloLens para que não tenhamos um novo Kinect ou um novo SmartGlass, que são ótimas curiosidades para mostrar para os amigos, mas que não conseguiram mudar nossas vidas como prometiam.

Sem puxar sardinha, mas tem horas que eu sinto falta do Steve Jobs. Se esse negócio estivesse na Apple nos tempos do cara que só tinha uma roupa, isso seria um sucesso (vide iPhone e iPad).

Jônatas Afonso, deus grego, explorador audacioso, artilheiro da copa do mundo, encanador bigodudo, piloto de karts e aviões, atirador de elite, chefe da Horda, membro da SWAT, assassino silencioso, um pequeno pixel na tela... E um ciclista quando falta luz ou preciso sair do meu mundinho.